BRINCAR É
IMPORTANTE PORQUE...
As nossas mais
caras lembranças nos vem da infância. Os momentos de brincadeiras na infância
são aqueles que marcarão para sempre nossa memória. Não há quem esqueça das
brincadeiras em frente de casa, na rua com os amigos sob os olhares dos adultos
que nos cuidavam enquanto conversavam ,em épocas distantes no tempo porém
presentes em nossa memória como se fossem hoje.
Segundo a autora
Melinda Wenner, em seu livro Brincar é Coisa Séria (2011) a importância do
brincar está ligada a um desenvolvimento saudável da infância e que “incorporar
o lúdico ao cotidiano é fundamental para o desenvolvimento social, emocional e
cognitivo, tanto de crianças quanto de adultos; além de combater o estresse e
contribuir para aumentar a criatividade, diversão faz bem para a saúde do
corpo. “ Se é fundamental como podemos abrir mão desse recurso tão importante
para a formação de indivíduos saudáveis? A autora refere-se a uma pesquisa
desenvolvida por Stuart Brown, psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina
de Baylor, em Houston, nos Estados Unidos, sobre o incidente com um estudante
de Engenharia que fuzilou 46 pessoas no Campus da Universidade. Stuart Brown
foi indicado para estudar o caso e concluiu, após entrevistar muitos
criminosos, incluindo o estudante, que todos tinham em comum o fato de
pertencerem a famílias de alguma forma
violentas e que eram crianças que não tiveram a oportunidade de brinca, em sua
infância.
Todos nós
educadores sabemos da importância do brincar e do lúdico, na infância. Sabemos
que para construir regras e combinados em equipe o jogo é um excelente recurso.
Sabemos que através das brincadeiras livres as crianças constroem e elaboram
conceitos essenciais as suas relações familiares e futuras, como adultos.
Sabemos que as crianças, durante as brincadeiras, trabalham emoções
conflitantes vivenciadas no ambiente familiar e que algumas vezes podem ser
observadas pelo professor, fazendo com que este possa auxiliar a criança a
passar por essas situações ou até mesmo tomar as providências legais cabíveis.
Mas isso ainda não é o mais importante. A importância do brincar vai muito além
de tudo isso. Ela pode auxiliar na catarse de emoções conflitantes, na passagem
de fases importantes do desenvolvimento infantil e na construção de elementos
importantes para auxiliar com o desenvolvimento da sexualidade e para
ultrapassar fases egocêntricas, normais no desenvolvimento infantil. Através
das brincadeiras livres as crianças têm a oportunidade de vivenciar situações
importantes que as ajudarão a tomar decisões no futuro, a construir
relacionamentos saudáveis, a lidar com as frustrações naturais da experiência
humana.
As brincadeiras
infantis também podem ser aproveitadas para embasar conteúdos, desenvolver
importantes áreas motoras do corpo da criança, cerebrais e construir regras
sociais.
“ Certamente, jogos com normas são divertidos e garantem importantes
experiências e aprendizados, promovendo, por exemplo, melhores habilidades
sociais e coesão de grupos. Mas jogos têm uma regra primordial: organize e
obedeça, enquanto
brincadeiras livres não tem regras iniciais e, assim permitem mais respostas
criativas, afirma o psicólogo educacional Anthony D. Pellegrini, professor e
pesquisador da Universidade de Minesota nos Estados Unidos.” (Melinda Wenner-
2011)
A autora ressalta
que, nas brincadeiras livres, as crianças desafiam mais estruturas cerebrais importantes no
desenvolvimento infantil. Ao exercitar a imaginação a criança se torna capaz de
desenvolver habilidades que possibilitarão as
tomadas de decisões, a capacidade de lidar com situações novas e
desafiadoras, tão importantes na vida adulta em relações profissionais e
sociais, até mesmo familiares, quando enfrentando situações estressantes.
Proporcionando também uma forma de lidar com seus próprios sentimentos e quando
uma criança se recusa a brincar ela pode estar sinalizando situações
importantes pelas quais possa estar passando, e os professores que observem
atentos as brincadeiras infantis podem ter informações sobre o que essas
crianças passam em sua vida cotidiana e familiar.
Além das
brincadeiras livres também é importante trazermos para o cotidiano pedagógico,
os jogos e as brincadeiras dirigidas. Temos material riquíssimo em nosso
folclore, que pode proporcionar aos alunos momentos de ludicidade e aprendizado
com temas importantes retirados da sabedoria popular. Os brinquedos fabricados
pelos pais e avós em um tempo onde não existia a Indústria e os jogos
eletrônicos podem auxiliar a criança a compreender o passado , integrando
gerações. As brincadeiras folclóricas , principalmente as rodas cantadas
proporcionam momentos mágicos às crianças e aproximam os filhos dos pais e dos
avós, pois essas brincadeiras venceram o tempo e foram vivenciadas por muitas
gerações de crianças. As crianças sentem prazer em cantar e vivenciar brincadeiras
onde utilizam o corpo e dessa forma desenvolvem, brincando, importantes áreas
de seu corpo, como a motricidade e a lateralidade, além de ao cantar as
cantigas populares, com sua repetições fazem importantes exercícios que as
auxiliarão na apropriação da leitura e da escrita , habilitando para a
aquisição da consciência fonológica , tão importante na alfabetizção.
Os jogos
pedagógicos são importantes recursos para o professor pois auxiliam na fixação
de conteúdos, na avaliação individual, no diagnóstico de problemas e na
construção de combinados da turma. Através dos jogos pedagógicos, nós
professores, conseguimos dar aulas de forma prazerosa, saindo da rotina e
fixando conteúdos na memória, que de outra forma seriam mais difíceis.
Para as crianças o
brincar é uma forma de trabalhar situações, fixar conceitos, construir regras,
superar limitações, exercitar posições e situações de relações futuras. Então a
brincadeira, na verdade é um exercício de cidadania, é uma forma de vivenciar
na imaginação para atuar na realidade. È através da brincadeira com os colegas
que as crianças poderão aprender a ser pro-ativas e estabelecer relações que a
ajudarão nas escolhas futuras, nas decisões profissionais, nos conflitos
familiares, porque quem exercita a imaginação consegue ter decisões criativas e
que abrirão caminhos onde parecia não haver saída.
Referência:
WENNER, Melinda. Brincar é coisa
séria. Mente Cérebre. São Paulo: EDIOURO DUETO EDITORIAL Ltda. Ano XVIII, n°
216, jan/2011 (pp: 26-35)