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domingo, 17 de fevereiro de 2019


POSTADA EM 17 DE JULHO DE 2016



Na idade dos porquês
                                                      Alice Gomes (1946)

Professor diz-me porquê?
Por que voa o papagaio
que solto no ar
que vejo voar
tão alto no vento
que o meu pensamento
não pode alcançar?

Professor diz-me porquê?
Por que roda o meu pião?
Ele não tem nenhuma roda
E roda  gira rodopia
e cai morto no chão...

Tenho nove anos professor
e há tanto  mistério à minha roda
que eu queria desvendar!
Por que é que o céu é azul?
Por que é que marulha o mar?
Porquê?
Tanto porquê que eu queria saber!
E tu que não me queres responder!

Tu falas falas  professor
daquilo que te interessa
e que a mim não interessa.
Tu obrigas-me a ouvir
quando eu quero falar.
Obrigas-me a dizer
quando eu quero escutar.
Se eu vou a descobrir
Fazes-me decorar.

É a luta professor
a luta em vez de amor.

Eu sou uma criança.
Tu és mais alto
mais forte
mais poderoso.
E a minha lança
quebra-se de encontro à tua muralha.

Mas
enquanto a tua voz zangada ralha
tu sabes    professor
eu fecho-me por dentro
faço uma cara resignada
e finjo
finjo que não penso em nada.

Mas penso.
Penso em como era engraçada
aquela rã
que esta manhã ouvi coaxar.
Que graça que tinha
aquela andorinha
que ontem à tarde vi passar!...

E quando tu depois vens definir
o que são conjunções
e preposições...
quando me fazes repetir
que os corações
têm duas aurículas e dois ventrículos
e tantas
tanta mais definições...
o meu coração
o meu coração que não sei como é feito
nem quero saber
cresce
cresce dentro do peito
a querer saltar cá para fora
professor
a ver se tu assim compreenderias
e me farias
mais belos os dias.




Alice Pereira Gomes, escritora portuguesa, nascida em 1910, em Granjinha (Tabuaço), fez os seus estudos secundários e universitários no Porto, onde também foi professora do Instituto Normal Primário. Pedagoga, estreou-se nas letras pelo final dos anos vinte, tendo organizado, em 1955, a antologia Poesia para a Infância. Traduziu o Principezinho de Saint-Exupery e dedicou-se, depois de 1967, exclusivamente à literatura infantil. Fundadora e dinamizadora da Associação Portuguesa para a Educação pela Arte, desenvolveu, através dessa Associação, diversos projetos pedagógicos justamente considerados pioneiros. Faleceu em 1983.



http://www.celsovasconcellos.com.br/index_arquivos/Page13252.htm (Acessado em 17/07/2016)



    Escolhi essa poesia para ilustrar o que compreendi das aulas sobre Projetos de Aprendizagem. Nós professores nos esquecemos , muitas vezes de levar em consideração o desejo de aprendizagem dos alunos. Um projeto deve nascer da curiosidade de aprender.Um projeto nasce das perguntas dos alunos, das curiosidades que demonstram frente aos segredos da vida. Um projeto não nasce do desejo do professor de ensinar um conteúdo, ele nasce do desejo do aluno de aprender sobre determinado assunto. Nasce das respostas que não estão prontas, das dúvidas e de algumas certezas que os alunos possam ter. 

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Mais uma vez, me prendo na magia dessa poesia! Revisitando postagens não há como não refletir novamente na questão da curiosidade infantil. Essa curiosidade tão importante nas questões de aprendizagem. As crianças são  naturalmente curiosas e a Escola precisa agir de forma a salientar esse aspecto, auxiliando seus alunos no despertar dessa curiosidade e que possam ir em busca do conhecimento que os transforme em cidadãos capazes de fazer as transformações necessárias no meio em que vivem, sem esquecer suas raízes culturais e sociais. É na observação desse meio e na interação com esse meio que os alunos se transformam em indivíduos criativos e proativos, desenvolvendo as habilidades e as competências essenciais para as suas ações no mundo. De acordo com o texto estudado na Interdisciplina Laboratório de Criatividade, destaco um pequeno trecho, que nos faz refletir sobre o papel dos indivíduos:

                                                                                                O futuro será caracterizado cada vez mais pela mudança, rapidez e imprevisibilidade. Resolver problemas de forma apenas lógica será então insuficiente face aos novos desafios, sendo as competências criativas de resolução de problemas necessárias à inovação exigida.( texto: Criatividade, conceitos e desafios, p.135).
Dísponível :https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2637679/mod_resource/content/2/Texto%20CRIATIVIDADE%20-%20Conceitos%20e%20Desafios.pdf

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